Impactos Sociais – Caso Pedra do Anta
Segundo Acselrad (2005) ambiente não é composto de puros objetos materiais ameaçados de esgotamento. Ele é atravessado por sentidos socioculturais e sentidos diferenciados. A água dos rios pode ter distintos usos: pode ser meio de subsistência de pescadores ribeirinhos ou instrumento da produção de energia barata para firmas eletrointensivas. Trata-se de um espaço comum de recursos, sim, só que exposto a distintos projetos, interesses, formas de apropriação e uso material e simbólico. Assim, o meio ambiente é atravessado de conflitos sociais. Os impactos sociais, ambientais e culturais das barragens demandam transformações abruptas nos meios de subsistência e estilos de vida das populações locais, e essas populações encontram sua expressão e resistência na organização em movimentos sociais, interados com outros atores sociais como universidades, segmentos da igreja e órgãos ambientais. Todos esses atores sociais aliados em uma mobilização política complementam a abordagem de conflitos socioambientais nos projetos das hidrelétricas. Como exemplo de conflito socioambiental tem-se o caso da instalação de uma pequena central hidrelétrica na Cachoeira da Providência, localizada no município de Pedra do Anta, que compõe a Zona da Mata em Minas Gerais.
Localização Pedra do Anta
Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedra_do_Anta#/media/File:MinasGerais_Municip_PedradoAnta.svg>
Foto aérea de Pedra do Anta
Fonte :<http://pedradoanta.mg.gov.br/imagens/slides/slide1.jpg>
A Zona da Mata é uma das regiões com maiores concentrações demográficas nas áreas rurais do estado isso se deve à grande diversidade das formas de ocupação e organização das propriedades agrícolas, principalmente aquelas de caráter familiar. Além disso, as famílias rurais conservam costumes e tradições típicas da região tanto nos modos de vida específicos do meio rural como nos meios de produção material e simbólico. No entanto, paralelo à produção material e simbólica da agricultura familiar, a Zona da Mata vem se tornando também nos últimos anos espaço de interesse de empresas do setor energético. A partir da década de 90 os projetos de instalação de hidrelétricas na região e principalmente na bacia hidrográfica do Rio Doce revelaram um cenário de conflitos socioambientais. O cenário que se estabeleceu na comunidade de Pedra do Anta era de desinformação, desconfiança e de medo por parte dos moradores da área de que fosse realmente construída a barragem. Esse quadro motivou um agricultor que iria ser atingido a procurar atores externos como o grupo de pesquisa e assessoria NACAB (Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens), o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), a CPT (Comissão Pastoral da Terra), e a ASPARPI (Associação Pescadores e Admiradores do Rio Piranga) para apoiar a comunidade durante o processo de licenciamento ambiental. Assim, começou-se a articular uma resistência contra esses empreendimentos devido à ameaça de perda de seu território. Com a necessidade de valorizar o que era seu, os agricultores começaram destacar que a luta pelo seu território é motivada porque é onde construíram suas vidas e todos se conhecem, é o lugar da produção, reprodução social e econômica. Dessa forma, desenvolveram uma identidade territorial, que gera ações coletivas. Ao longo de 14 anos de tentativa de instalação da PCH em Cachoeira da Providência, esses movimentos sociais foram fundamentais para o encerramento previsto pelo COPAM (Conselho de Política Ambiental) que indeferiu a Licença Prévia para a empresa responsável.
Fonte:<http://www.uff.br/vsinga/trabalhos/Trabalhos%20Completos/Aline%20Guizardi%20Delesposte.pdf>